OUTRO IDIOMA

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Olga Romero, um coração cheio de cores

 Numa manhã chuvosa em Curitiba, encontrei Olga Romero!

É sempre festa e alegria encontrar com esta bonequeira argentina, que faz parte da cultura curitibana, brasileira e latino americana pelo seu trabalho singular, consolidado e contínuo.

Olga Yolanda Romero de Castillo Gutierrez Falchetto nasceu em Laboulaye, província de Córdoba, República Argentina. Ela teve uma infância feliz cercada pela família, por gibis, jornais, revistas e livros _ o avô era contador de histórias e jornaleiro. O pai, ferroviário, recitava poesias e a mãe distraía e brincava com a pequena Olga com trava-línguas!
A família, todas as quartas-feiras ia ao cinema do bairro assistir duas sessões dos filmes em cartaz!
Olguita, declamadora mirim dos encontros familiares, era rigorosamente ensaiada pela mãe e todas as noites se reuniam para ouvir o rádio teatro.
Aos 5 anos, com direção do tio, ela estreou o espetáculo La Letiguana. Com todo este universo cultural, Olga não frequentou a pré-escola, mas foi numa festa de final de ano das crianças de uma escola, que ela ficou encantada com as músicas, a dança, o teatro e os figurinos coloridos! A partir daí, pedia à mãe para ir ao carnaval com uma daquelas fantasias! E assim aconteceu, no carnaval toda enfeitada de branco, seguida pela família, Olguita desfilava toda contente. Alguém então lhe perguntou do que estava fantasiada e ela disse: _ De Merengue! E todos riram. Merengue é um ritmo que aprendeu anos mais tarde. 
                              _ Do está fantasiada Olga? _ De Merengue! 

Olga foi a primeira da classe a ler, foi oradora mirim dos eventos escolares, fez teatro no  curso escolar (Teatro Vocacional Siripo), teve aulas de canto, piano e muitos exercícios para apresentações de danças típicas. Aos 12 anos já lia Pablo Neruda e aos 15 ganhou o tão sonhado LP de Edith Piaf.
                            E cresceu pensando: _  Eu vou estudar Teatro!

Aos 20 anos, mesmo sem a aprovação da mãe, foi para Córdoba com uma mala, um colchão, uma passagem e uma toalhinha bordada CARPIE DIEM, para seguir sua vocação. Começou a luta pela sobrevivência, tendo trabalhado em diversos tipos de serviços. Na grande escola de Teatro de Córdoba, Olga teve as portas fechadas, pois o curso era das 8 horas da manhã até às 23 horas, e tinha que adquirir 20 livros por mês _ Como estudar e trabalhar?


E para sua sorte, pouco tempo depois conheceu o Teatro Rivera Indante, um curso de formação de atores chamado “Seminário da Arte Dramática Jolie Leboí”, onde as aulas eram gratuitas e somente à noite. Realizando assim seu sonho de estudar Teatro.
Na busca por trabalho fez um teste para atriz bonequeira com Martin Bregaglio, diretor artístico do Teatro Rivera Indarte e passou a integrar o elenco oficial da casa.

                                                       

Ganhou uma bolsa de estudos para estudar com a grande professora de dança Maria Fux, mas não levou muito a sério na época os estudos de dança _ Namorar era mais divertido!  (risos).
Em uma de suas viagens para festivais de teatro, em 6 de janeiro de 1969, conheceu no ônibus, o mímico argentino Héctor Grillo (1935-2009) e o rapaz, galanteador, a conquistou dizendo que a escolheu pois foi a única que subiu no ônibus com um livro na mão. Era um livro de Gabriel Garcia Marques.
Em 1970, esta parceria teatral consolidada e o namoro de vento em popa, tudo o que pensavam era em mímica e bonecos, Olga e Héctor trabalharam em um Café Concerto, já com temas para o público infantil e bonecos confeccionados com materiais descartáveis:
 _ Meu primeiro boneco reciclado utilizava um potinho de iogurte e um fio verde_ lembrou Olga!

Pouco tempo depois, já conhecidos como os palhaços Gogo e Pirola, montaram uma série de esquetes e pequenos espetáculos com base nos personagens com mímica, pantomima contemporânea e bonecos. O sonho destes jovens amantes era viajar à Paris para estudar Teatro do Absurdo.
Mas como realizar este sonho ? Héctor e seu amigo Horácio, seguiram de trem até a fronteira do Brasil, e depois de ônibus até o Rio de Janeiro, onde pegariam um navio até Paris, mas esta história nunca aconteceu, pois chegaram ao Brasil em plena ditadura militar e acabaram permanecendo no Rio de Janeiro. Olga, em Córdoba, trabalhou em vários empregos para comprar passagem para Europa, e quando tudo já estava pronto e com a passagem na mão, chegou uma carta de Héctor Grillo, dizendo:
_ Antes de ir à Europa deve conhecer o Brasil! Aqui tem mulheres vestidas de branco com colares coloridos e uma dança com sombrinhas chamada Frevo!

 Olga segue para o Rio, onde ela e Héctor conhecem João Siqueira e fundam o grupo Tijolo, e coletivamente criam o espetáculo "O jogo de três por três", trio composto por Gogo (Héctor Grillo), Didi (Olga Romero) e Pipoca (João Siqueira). Em 18 de agosto de 1974, nasceu Bernardo, seu filho com Héctor Grilo. Olga retornou para Argentina em Janeiro de 1975. Em Córdoba fez concurso para trabalhar como bonequeira para o Estado e trabalhou na televisão de 1976 a 1978 com o programa infantil Asomados y Escondidos, no canal 10.
Em agosto de 1978, no auge da ditadura, os integrantes do programa são avisados para não trabalhar, pois senão seriam presos. Olga retorna ao Brasil e encontra Héctor Grillo em Lages, Santa Catarina, onde havia fundado o Grupo Gralha Azul. Na mesma semana, com a direção de Héctor Grillo, participa do espetáculo “No Planalto Sul Tropical do Sol” no Festival de Ouro Preto. Um espetáculo inovador com atores contracenando com bonecos de luva fora da empanada. O grupo Gralha Azul e sua ousadia cênica, que mesclava várias linguagens, é lembrado como um marco na evolução do Teatro de Bonecos no Brasil.
No 9º Festival Nacional de Teatro de Bonecos que aconteceu em Lages/SC, Olga foi responsável por toda a decoração de rua para recepção dos convidados. Com o Grupo Gralha Azul participou de um Festival de Teatro na Polônia.
_ Na Polônia, via os trens que partiam para Paris! E o sonho de estudar na Cidade Luz voltou na minha mente e no meu coração! _ lembrou Olga.

 O grupo  viajou para França e para Itália e Olga então teve a oportunidade de estudar na França. Fez um estágio no Instituto Internacional da Marionete, na cidade de Charleville-Mézières sobre as “Relações poéticas, simbólicas e lúdicas entre a Criança e a Marionete”, em 1985.
Anos difíceis seguiram com o fim do grupo Gralha Azul até a decisão de fundar seu próprio grupo. Em 1988, morando em Curitiba com seu filho Bernardo, funda o grupo Merengue Teatro de Animação, com a proposta de integração de várias linguagens, teatro, teatro de bonecos, animação de objetos, máscaras, mímica, teatro de sombras entre outras formas de expressão artística. A cada nova montagem, Olga convidava atores, bonequeiros, músicos, artistas de outras linguagens e técnicas. 
Seus espetáculos ordenam a sucessão de símbolos para que o público construa sua leitura, sua interpretação, com sua imaginação e sensibilidade. Desta forma, o dramático envolve e não exclui, transita com o outro, se faz com outro, o receptor por consequência se torna vital, permeável, necessário.
Com o Grupo Merengue, Olga participou de Festivais nacionais e internacionais, na Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Itália, França, Polônia, procurando sempre divertir e emocionar com muita poesia.


O que mais dizer de Olga Romero?

                          Mulher, mãe, atriz, autora, diretora e bonequeira!

38 anos dedicados à Arte do Teatro de Bonecos: Autora e diretora de diversas peças teatrais. Inserida entre os nomes mais importantes do teatro infantil no Brasil, Olga também tem atuação reconhecida na América do Sul e na Europa. Ministrante de oficinas e palestras sobre arte-educação, sempre com o objetivo de estimular a leitura. Foi especialmente convidada pela Universidade Estadual de Santa Catarina para 6º Seminário de Pesquisa de Teatro de Formas Animadas, que aconteceu em Jaraguá do Sul/ SC, com apresentação do seu trabalho “Práticas Formativas no Teatro de Animação”.



Autora do livro infanto-juvenil “Maria das Cores e seus Amores”, publicado em edição bilíngüe pela Editora Arte e Letra. Figura popular na Cidade de Curitiba, este ano foi eleita “A Condessa” do Bloco Carnavalesco Garibaldis e Sacis. Atuante no movimento bonequeiro no Brasil, já foi presidente da Associação Paranaense de Teatro de Bonecos, e faz parte da diretoria da APRTB, biênio 2013/2015. Atualmente é sócia benemérita.

Estar com Olga Romero é sempre uma Festa, a alegria desta mulher contagia todos que tem o prazer de conhecê-la e ver seu trabalho com seus amados e eternos companheiros: Os Bonecos!

Por Tadica Veiga, da Cia dos Ventos, São José dos Pinhais/ julho/2021.


Um boneco me contou...

 

Que o artista expressa seu saber/fazer das mais variadas formas: bonecos de luva, de varas, marionetes de fios, sombras, figuras, objetos, bonecos gigantes, híbridos ou miniaturas...
por meio da mise-en-scène, da contação de histórias sejam clássicas ou contemporâneas, usando as mãos, o corpo todo, a voz, a luz, nos palcos, nas escolas, nos parques e praças, nos espaços virtuais...
Que os artistas são fazedores de graça, de dramas, de cura, protesto ou reflexão!

O boneco, este outro, duplo, máscara, simulacro, alter-ego, imagem de nós, de nosso tempo, de nossa história particular ou ancestral; esta figura humilde, alegre, bizarra, escandalosa, anímica, animal ou caricatural...seja de pau, pano ou avatar! Este boneco que fala ou se cala, canta e nos encanta, grita, ri ou chora, nos distrai e vai embora...mas deixa lembranças...

Este blog é para lembrar!

Sejam bem vindes!


* Cia Manipulando, Mágico Hugo Moraes, Trágica Cia de Arte, Caçuarte, Di Trento, Filhos da Lua, Fantokid's, Tato Criação Cênica, Manoel Kobachuk, Olga Romero e Cia La Polilla.


Um boneco me contou...

O Retorno Espetacular!

 Depois de 5 anos, o festival Espetacular de Teatro de Bonecos retorna e apresenta o que o Parana tem para mostrar! https://www.instagram.co...

Veja mais...