Ser mãe é especial, ser mãe bonequeira é...
Ter
mãe é um privilégio e ser mãe é uma missão...pensando assim,
penso que não tive o privilégio, mas cumpri o melhor que pude essa
missão...entre agulhas, lãs, espumas, lágrimas, tintas e
preocupações...
fui tecendo bonecos e criando um ser humano
fantástico, que hj me enchem de orgulho: "Os bonecos e a boneca
que criei. LÚCIA HELEN de Curitiba, mãe da ÉLIDA.
Ser
mãe bonequeira é enfiar filha na mala ou sentir saudade. É ver sua
filha conhecendo um boneco como se conhecesse alguém. Intimidade,
vínculo, presença, ausência. De repente a menina de dois anos está
em cima da escada do técnico, escondida nas arquibancadas, dormindo
no carrinho na coxia. Abraço de saudade de dias. Coração cheio,
fluido, apertado, condensação e expansão, movimento cíclico. Ser
bonequeira é ser viajante, ser filha de bonequeira é ter influência
itinerante. Conhecendo mundos por várias perspectivas e vozes.
Seguimos brincando, mãe e filha, boneco ou boneca, na mão, no
balcão ou no chão. Ser mãe bonequeira é a eterna reinvenção de
nós. KATIANE NEGRÃO de Curitiba/Brasília, mãe de ÍRIS.
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Katiane e Íris (ao fundo Carolina Maia) |
Ser
mãe bonequeira é fazer bonecos pensando no que seus filhos vão
achar daquele novo trabalho. Na
minha primeira gestação, estávamos produzindo o que foi o último
carnaval dos bonecos, subia nas mesas rolava no chão, ainda muito
pequenininho dentro da minha barriga, já estava correndo na avenida
de um lado para o outro cuidando dos gigantes debaixo de uma chuva
torrencial, e cada boneco que chegava na concentração eu pegava no
colo para ver se algum dano tinha acontecido com eles, esperando um
bebezinho e sendo mãe dos bonecões. Depois que nasceu o Gabriel ia
para a Oficina de Bonecos comigo, fizemos uma caminha de espuma e
fibra para ele, todo mundo ajudava a cuidar um pouquinho. Hoje ele me
fala que quando crescer vai trabalhar com a mamãe, vai ser
bonequeiro. Na
segunda gestação, estávamos no auge de muitas produções novas,
passamos por mudança de sede, e com 36 semanas estava agachada
dentro de uma empanada fazendo o que mais amo fazer, manipulando um
dos maravilhoso boneco feito pela grande Katia Picolin, nossa Patcha
Mama. A peça rolando e a Alexia eufórica na minha barriga, não deu
outra né, o trabalho da mamãe é o lugar que ela mais gosta de ir. Os
dois amam o mundo dos bonecos e adoram dar palpites. Não perdem
nenhuma apresentação e sempre que estou fazendo um boneco novo
tenho que mostrar todo o processo para eles. Simplesmente
uma mãe apaixonada pelos seus filhos, os que vieram do meu ventre e
os que nasceram das minhas mãos. DIVIANE SCHULLI de São José dos Pinhais, mãe do GABRIEL e ALEXIA.
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Diviane, Gabriel e Alexia
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Ser
mãe bonequeira é fazer da maternidade uma Arte, é ter
responsabilidade para gerar e criar um ser humano ao mesmo tempo que
cria e recria seu trabalho artístico.. ser mãe bonequeira, ser mãe
artista é criar e recriar. DANEE MADRID de Curitiba, mãe da MARIA MAÊ.
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Danee e Maria Maê
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Sempre
vou lembrar dela me acompanhar até o portão quando eu ia para casa,
do abraço, beijo, do olhar carregado de amor, dela me dizendo "Vai
com Deus filha, depois nos falamos". Ser
mãe bonequeira é ter dedo verde como Tistu, criar, encantar, e ser
encantada, é ter vários bonecos sendo confiscados e receber muitas
ideias dos olhares atentos dos pequenos. RUTHNEIA RODRIGUES de São José dos Pinhais, mãe de AYVI e AUSTIN.
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Ruthneia, Ayvi e Austin
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Trabalhei
em todas as minhas gestações, tava quase parindo e colocando boneco
no Mundo! Eles
ali dentro no casulo de alguma forma entendiam que estavam em cena,
na primeira gestação por exemplo, eu vestia uma máscara de monstro
e lembro que um outro bonequeiro que assistia, ficou impactado não
pelo monstro, mas pelo fato do monstro estar “grávido”, rs
causou certo incomodo pra ele. É
um aprendizado constante, são crianças que convivem com a criação
o tempo todo, que sempre vão experimentar o boneco primeiro, que dão
idéias, que pensam em cenas, no meu caso, aquela plateia (terror de
todo bonequeiro), que vai opinar alto, que vai reclamar se não gosta
pq já viu muita coisa, que quando vc leva pra assistir e vc está em
cena manipulando a bruxa da história, pode estar abraçado com uma
pessoa que vc nunca viu na vida, pq a mãe tava ali, manipulando o
boneco, com o coração na mão pq não podia parar o espetáculo,
agradecendo ao Universo, pq do lado dele tinha uma outra mãe que
entendia o poder de um abraço. É
o seu filho achar que a trilha do espetáculo é composição tua, pq
conheceu na sua voz, e ouvir o aplauso sincero, receber o chá
quentinho com bolachas quando vc precisa muito terminar um boneco, é
a torcida pelo sucesso, o sorvete depois da apresentação, espalhar
corações pelo mundo. ALYNE ROCHA de Curitiba, mãe do RODRIGO e ARTHUR.
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Alyne, Rodrigo e Arthur
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Ser
mãe bonequeira é levar os filhos pro trabalho e o trabalho pra
casa. Tudo junto misturado, faz trabalho da escola dos filhos,
enquanto decora o texto, os filhos decoram seu texto antes de vc. Vc
cuida dos filhos e eles cuidam de vc. Trabalhei em todas as gestações
e no resguardo também. Ser filho de mãe bonequeira é ter uma
infância mágica e uma adolescência complicada. Ser mãe bonequeira
é trabalhar sem descanso, porque a grana é pouca e vc quer o melhor
pra seus filhos e bonecos. É não ter onde morar, mas mesmo assim
criar um lar nos teatros e empanadas. E dar o seu melhor e mesmo
assim sentir que não é o suficiente, viver com culpa e se perdoar.
É contar com a solidariedade e sororidade e aprender a sorrir mesmo
na dor e dizer tá tudo bem. A vida é linda e vale a pena ser
vivida. TADICA VEIGA de São José dos Pinhais, mãe de LUCAS, HELENA e SEBASTHIAN.
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Tadica, Lucas, Helena e Sebasthian e as netas Lina e Olívia |
Vou
partilhar um pouquinho minha experiência de maternidade com a vida
bonequeira: Primeiro
veio a Lis (hoje com 20 anos), que nasceu não apenas em meio a
montagens de meus espetáculos com o Pai dela, mas também da avó Denise Di Santos. No
quintal da casa da Bahia, Lis com 1 ano de idade modelava bonecos de
papel machê com Denise, aprendia a sambar com a Bisa e assistia os
ensaios do "Doces da Rainha"! Na estreia do "Roubo do
Sorriso do Palhaço" no Teatro do Sesi no Rio Vermelho,
exatamente onde se comemora o dia 02 de fevereiro, Lis chorou na
plateia por não ser apresentada junto com o elenco, nos fazendo
levá-la ao palco às pressas e apresentá-la como integrante da Cia.
Lembro bem da vez que eu disse a Lis que não pegasse os bonecos,
pois não eram brinquedos... A frase ecoou na minha cabeça
absurdamente sem sentido que eu nunca mais repeti, fazendo os
personagens parte das brincadeiras dela. No
Rio de Janeiro nasceu Téo que está com 9 anos, também criado em
meio aos bonecos. Téo teve uma fase difícil com muitos pesadelos
com monstros, então eu conversei que existiam os “Monstros do Bem”
e que também tinham poderes. Téo desenhou seus “Monstros do Bem”
e eu confeccionei em bonecos pra ele brincar e fiz pra venda. Depois
senti falta de que Téo assistisse um espetáculo que ele se visse,
se identificasse como criança negra. Então eu fiz uma livre
adaptação do conto "Guilherme Augusto de Araújo Fernandes"
colocando o personagem principal com as características de Téo.
Contamos juntos esta história online, só depois de gravado eu vi
que Téo dialogava com o público por meio de mimica, apontando para
o cabelo do boneco e o dele, a pele, a blusa...evidenciando que o
boneco era ele. São muuuuuitas as histórias. Aqui foi um pouquinho!
Parabéns a todas as mágicas mães bonequeiras! ALINE BUSATTO de Curitiba, mãe da LIS e do TÉO.
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Alyne, Lis e Téo
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Ser mãe bonequeira é...também voar! Numa manhã ensolarada de domingo, leva filho junto pra apresentação: era a Mary Poppins com Marcelo Karagozk, Teatro de sombras. Iago, com uns 7 anos, sentou como plateia e assistiu bonitinho. Quando acabou a apresentação me abraçou e falou: _ Nossa mãe você voa! _ Encantos de boneco! Cena inesquecível! TINA DE SOUZA de Curitiba, mãe de IAGO.
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Tina e Iago (Foto Cido Marques)
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Ser mãe bonequeira...de quatro bebês, quatro mulheres! 1984, nasce Ramaiana, surda, esperta, uma criança que via os bonecos e entendia seus sinais, e gargalhava antes da cena terminar...1987, nasce Tainá, a pequena artista plástica, que com 2 aninhos já contava histórias mostrando suas lindas garatujas para irmã surda, fazendo sinais inventados, numa linguagem própria que só elas entendiam...1990, nasce Geraldine, a pequena dançarina-princesa-rosa-menina que só usava sapatinho de verniz, herdados por muitos bonecos e, em 2001, nasce Manon, atriz espetaculosa, com tanta pressa de brilhar que nasceu dentro do carro, sob o aplauso de uma plateia curiosa! Quatro histórias que encenamos juntas, num roteiro improvisado, repetidas vezes, nos palcos da vida! INECÊ GOMES de Curitiba, mãe de RAMAIANA, TAINÁ, GERALDINE e MANON.
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Inecê, Ramaiana, Tainá, Geraldine e Manon |
MÃE BONEQUEIRA (Alyne Rocha)
Te preparo
Alinhavando sonhos,
Medos,
Desejos de bem querer
Te espero
Separo os materiais
Escolho as cores do teu caminho
Cuido pra que o cenário tenha a grandiosidade da sua estreia
...
Eu paro
Te encontro
Visto meu melhor sorriso,
Dou-te todo o meu coração
E alargo tanto o meu abraço, que poderia abraçar o Mundo.
Te acolho
Faço ninho em coxias
...
Primeiro sinal: Te apresento seus irmãos e irmãs de pano
Segundo sinal: Sopro canções de ninar
Terceiro sinal: Te abençoo
E abro a cortina!
...
Receba o aplauso da vida!
#mãesbonequeiras
Postagem elaborada por Alyne Rocha, Inecê Gomes e Tadica Veiga, com a colaboração especial das bonequeiras Aline Busatto, Angélica Santos, Carolina Maia, Danee Madrid, Diviane Schulli, Katiane Negrão, Lucia Helen, Ruthneia Rodrigues e Tina de Souza.